quinta-feira, 25 de outubro de 2012
UM RESUMO DA HISTÓRIA DA AQPAINE
A Pastoral dos Índios e dos Negros de Riacho de Santana – BA foi fundada em 28 de agosto 1997 com o objetivo principal de conhecer e escrever uma nova história dos descendentes indígenas e negros desta localidade.
Pe. Aldo Lucchetta, italiano, adotou a cidade de Riacho de Santana como sua terra e seus munícipes como sua família. Homem trabalhador, guerreiro se tornou a voz dos menos favorecidos, dos sem voz e sem vez. Realizou muitas obras nesta cidade, mas a sua maior obra foi o trabalho de conscientização que começou com a criação das CEBs na paróquia, catequese e a politização da população que até então vivia embaixo da pata dos governantes. Em meio a este trabalho criou muitas pastorais dentre elas a Pastoral dos Índios e dos Negros – PAINE. Pe. Aldo morreu no dia 28 de março de 1998, vítima de um fatídico acidente de carro.
As primeiras atividades realizadas pelo grupo que acabara de nascer foram comemorações de aniversário de membros na sala de reuniões na Casa Paroquial onde reuníamos. Enquanto tentávamos vasculhar a nossa história nos dedicamos ao trabalho social e resgate da cultura local.
A PAINE, desde a sua fundação vem caminhando com muitas dificuldades, mas sobrevivendo com seu trabalho de formiguinha. Trabalho este que se estendeu pela zona rural do município onde já temos a organização de 01(uma) comunidade de remanescentes de quilombos na sede do município e 08 (oito) na zona rural, totalizando 09 (nove) comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares.
Com o passar dos anos sentimos a necessidade de fortalecer e organizar melhor o grupo, ou seja, precisaríamos de vida jurídica para que pudéssemos realizar projetos com o objetivo de dar suporte e atender melhor as comunidades citadas anteriormente além de ter acesso a benefícios sociais destinados aos moradores dessas localidades, foi aí que no dia 20 de Dezembro de 2005 criamos a Associação Quilombola da Pastoral dos Índios e dos Negros de Riacho de Santana – BA – AQPAINE. É uma Associação Cultural que busca o resgate da memória histórica dos descendentes de índios e afro-brasileiros e que no primeiro momento buscou reativar a cultura do reisado na cidade e em comunidades rurais próximas a sede do município, também reativamos o carnaval de marchinhas, bem como cantigas de rodas e outras danças não mais praticadas pelos atuais descendentes de quilombos. Por último tentamos revigorar o bumba-meu-boi em parceria com alguns professores do Colégio Estadual Sinésio Costa - CESC.
Temos uma rotina de reuniões mensais e, de acordo a necessidade, encontros para estudo e planejamento de ações a serem realizadas. Dentre as ações realizadas pelo grupo destacamos algumas como: a realização de encontro de formação de lideranças, distribuição de complementação alimentar para 45 famílias membros da AQPAINE através da CONAB repassado pela AMMC-RS, acompanhamento de um projeto do MDA – AEGRE desenvolvido através do Instituto TERRAGUA para elaborar o Plano de Desenvolvimento dos serviços de assistência técnica e extensão rural nas comunidades quilombolas em processo de regularização fundiária pelo INCRA na comunidade quilombola de Mata do Sapé. Temos participado de fóruns, encontros de formação para lideranças e professores de comunidades quilombolas, no Território Velho Chico e estaduais inclusive na criação do Conselho Estadual de Comunidades Quilombolas e é importante ressaltar a ação que nos levou a ser um dos proponentes do Edital Pontos de Leitura, o projeto “Uma Leitura da Cultura Negra Riachense” que surgiu com um grupo de professores do Colégio Estadual Sinésio Costa, aqui em Riacho de Santana.
Ao estabelecer parceria com a Pastoral dos Índios e dos Negros de Riacho de Santana, a professora Tatyana Di Lissandra, doou uma coleção de 23 títulos que tratam da temática étnico-racial, títulos estes que havia adquirido como prêmio pelo CEERT, por trabalhos desenvolvidos na área. Nesse momento surge a ideia de montar um acervo com o objetivo de beneficiar a comunidade através da promoção de trabalhos com leituras que possibilitassem o desenvolvimento do senso de pertinência e autonomia intelectual; bem como, o apreço pela leitura, atribuindo-lhe significados, conforme, propõe FREIRE. A partir desse momento, houve uma motivação para a aquisição de novos títulos, para a realização dos trabalhos que, até então, vem sendo realizado semanalmente.
O trabalho recebeu novos adeptos e é conduzido por um grupo de voluntários que fazem a mediação em relação aos eixos temáticos de cada livro.
A metodologia mais relevante se dá através do rodízio de livros: títulos são distribuídos para um determinado grupo e trocados semanalmente, quando fecha o círculo, inicia-se o processo de exploração dos seus conteúdos.
Além das leituras convencionais (dos livros), outras formas de leitura são exploradas: filmes, documentários, pesquisas de campo, etc.
O público atendido é na sua maioria de jovens, adultos e pessoal de terceira idade. A ideia é ampliar também para o público infantil.
Um outro aspecto relevante do trabalho é o fato de muitos dos adeptos, que fazem parte da Pastoral dos Índios e dos Negros, não serem alfabetizados. Para estes, é utilizada uma metodologia diferenciada: o mediador relata o enredo/conteúdo da obra e em seguida explora as ideias principais contextualizando-as com os “saberes” do grupo.
Recentemente a AQPAINE foi contemplada com um Ponto de Leitura do Programa Mais Cultura do Estado da Bahia executado pela Fundação Pedro Calmon.
A alfabetização deste grupo de adultos é também uma das ações propostas pelo projeto contemplado.
Na luta contra a discriminação racial e até mesmo a intolerância religiosa que infelizmente acontece em nosso Município, o que temos feito é apenas trabalho de conscientização, mas existem situações com necessidade maior, que é o caso de assessoria jurídica no acompanhamento de processos abertos contra a prática do crime de racismo.
RIACHO DE SANTANA – BA. Fevereiro de 2012.
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